A preocupação crônica, ou a ruminação – aquele pensamento negativo recorrente sobre fatos que já ocorreram – pode ser prejudicial para o cérebro. Um estudo publicado em junho de 2020 pela renomada revista Alzheimer’s & Dementia relacionou esses padrões de pensamento negativo a mudanças cerebrais que podem estar associadas à doença de Alzheimer.
O estudo incluiu 360 adultos saudáveis com mais de 55 anos. Os participantes descreveram como costumavam pensar sobre os eventos negativos usando um questionário que classificava as respostas em uma escala de 0 (nunca) a 4 (quase sempre). Os pesquisadores então testaram a função cognitiva dos participantes ao longo do tempo. Alguns participantes também realizaram tomografias PET para uma análise de depósitos de proteínas problemáticas no tecido cerebral.
A Conexão entre Pensamento Negativo e Declínio Cognitivo
Os autores do estudo descobriram que os adultos mais velhos que regularmente se engajavam no pensamento negativo recorrente tinham maior probabilidade de apresentar declínio cognitivo em comparação com aqueles que não se engajavam. Eles também tinham níveis mais elevados de proteínas cerebrais prejudiciais (beta-amiloide e tau) no cérebro. O acúmulo dessas proteínas, que criam aglomerados conhecidos como placas e emaranhados neurofibrilares no cérebro, é o que gera a demência de Alzheimer.
A pesquisa mostrou que os participantes que relataram maior ocorrência de pensamento negativo repetitivo viram quedas mais rápidas na cognição geral e na memória ao longo de quatro anos do que aqueles que não referiam tantos pensamentos ruminantes. Eles também apresentaram maiores quantidades de beta-amiloide e acúmulo de tau em seus cérebros.
Ansiedade, Depressão e o Risco de Demência
Estudos anteriores já mostravam uma ligação entre ansiedade e depressão como fatores de risco para Alzheimer e outros tipos de demência. Pessoas com ansiedade e depressão costumam ter pensamentos negativos repetitivos, então, as descobertas nesse sentido não são totalmente surpreendentes.
No entanto, é importante ressaltar que não é possível afirmar, a partir deste estudo, que esses padrões de pensamento negativo realmente causaram as mudanças cerebrais e nas habilidades cognitivas. Pode ter ocorrido o contrário: primeiro o depósito das proteínas, após o pensamento ruminante e, em seguida, o declínio cognitivo.
Mesmo sem poder afirmar uma relação direta de causa e efeito, se o pensamento negativo repetitivo afeta o cérebro de forma negativa, podemos e devemos agir para prevenir os malefícios desse hábito de sofrer em demasia com o passado. Cuidar da sua saúde mental é um passo crucial para a saúde cerebral a longo prazo.
A Dra. Erika Tavares, neurologista em Jaraguá do Sul e Joinville, está à disposição para auxiliar na avaliação de sua saúde cognitiva e para discutir estratégias de bem-estar mental que podem contribuir para a prevenção de doenças neurodegenerativas.